Administrar o escritório ou clínica pode se tornar um bicho de sete cabeças para recém-formados - Celso Felizardo, repórter Folha de Londrina
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Tranquilidade e sensação de conforto estão entre os benefícios, porém, para evitar danos, só pode ser usada até os 3 anos - Rafael Sanchez, especial para o JL
Sem indicação de uso pela maior parte dos dentistas, a chupeta ainda deve ser levada em consideração quando o assunto é tratado no campo da psicologia. O acessório promove a tranquilidade da criança e leva à sensação de conforto, condições importantes para o começo da vida. É o que explica a psicóloga Maria Lúcia Bezerra de Sá. “O sugar da chupeta traz relaxamento a essa criança”, afirma. Para ela, a chupeta serve como um rito de passagem também para que o bebê não fique mais tão colado à mães.
No entanto, de olho nas recomendações da Sociedade Brasileira de Odontopediatria e do Ministério da Saúde, a psicóloga alerta que o uso da chupeta só deve ser feito até a criança atingir 2 anos e meio ou 3 anos. É o fim da primeira infância, quando há um processo maior de amadurecimento.
A filha da técnica de enfermagem Jaciane Furin de Lima, 26, já está com 3 anos e promete largar a chupeta aos 4. A criança usa a chupeta desde os 9 meses de idade e Jaciane diz já ter tentado fazê-la abandonar o hábito algumas vezes. “Prometi coisas, mas ela ficou doente e dei de novo. Tentei trocar por algo de comer, mas ela chora e acabo dando”, conta. Por causa do tempo de uso, Jaciane já nota os dentes um pouco deslocados na boca da filha, que também tem um pouco de dificuldade na fala. Já a auxiliar de enfermagem Michelle Juliany Mantovani Martins, 26, encontrou uma solução para que a filha Livia, 3 anos, largasse o hábito. Ela fez um furo em todas as chupetas da menina e inventou uma história para “enrolá-la”. “ [Disse que] Era uma minhoca no dente que tinha furado e que eu ia comprar uma nova na farmácia, mas não tinha e assim por diante.” Em uma semana, ela afirma, a chupeta foi abandonada por Livia.
Quando questionada sobre os prejuízos que a maioria dos dentistas afirma serem causados pela chupeta, a psicóloga diz acreditar que a arcada dentária se conserta com mais facilidade do que problemas psicológicos, especialmente os originários no início da vida.
Segundo a psiquiatra Simone Pistori, o uso da chupeta, assim como o ato de chupar o dedo, é chamado de sucção não nutritiva. Extrapolar o tempo de uso recomendado anula todos benefícios que o acessório propõe. A chupeta pode, inclusive, se transformar em “muleta” para a criança. A cada situação de frustração, será usada para fugir do problema. Por isso, ela também recomenda que os pais fiquem atentos à necessidade de retirar a chupeta dos filhos assim que atingirem 3 anos. “A partir daí a gente contraindica.”
Correção natural
Apesar de a odontologia puxar o coro para ressaltar os prejuízos causados à dentição infantil, a dentista Maria Lúcia Pereira Franzon está entre os que dão algum crédito à chupeta. Ela também menciona o “efeito calmante” na criança, além de estimular o prazer oral, devido à necessidade de sugar, necessário aos bebês. “É tolerável e importante para que haja amadurecimento psicológico” afirma. A dentista conta que os problemas causados à boca pelo uso da chupeta, como mordidas aberta ou cruzada, podem ser corrigidos espontaneamente pelo corpo quando a criança abandona a chupeta entre 2 e 3 anos de idade.
Para que os problemas na arcada dentária não surjam, ou apareçam em menor escala, a Associação Brasileira de Odontologia recomenda que no período em que o uso é aceitável, a chupeta não seja disponibilizada o tempo todo para a criança. Um exemplo a ser seguido pelos pais é não deixá-la pendurada ao pescoço da criança, uma vez que facilitaria o acesso dela à chupeta. Além disso, só deve ser oferecida quando a criança pedir e, mesmo assim, para os momentos de consolo ou aconchego. Assim que a criança dormir é aconselhável retirá-la delicadamente de sua boca e a deixá-la longe do alcance.
Uso excessivo afeta respiração e deglutição
Caso o uso da chupeta ultrapasse o tempo recomendado, a criança pode ter problemas na arcada dentária e também no resto da face. O dentista Auro Kimura explica que a tonicidade dos músculos do rosto fica diferente, causando desequilíbrio e prejudicando, inclusive, o posicionamento da língua.
Nos dentes um dos problemas principais é a mordida aberta anterior, ou seja, os dentes superiores e inferiores não se tocam por causa do “costume” de ter o bico da chupeta entre eles, explica a odontopediatra Marília Franco Punhagui.
Atividades funcionais, como respiração e
deglutição, também ficam comprometidas. Quanto mais tempo o hábito for mantido, mais difícil será para os ossos da face e a arcada dentária voltarem ao normal. “A mordida aberta retorna com mais facilidade, mas em alguns casos vai precisar de tratamento disciplinar com fonoaudiólogos, dentistas e até fisioterapeutas”, diz Punhagui.
Na opinião do psicanalista Marcelo Castro usar por muito tempo a chupeta pode levar a criança a se apegar exageradamente também a outros objetos. Ele explica que lidar com a falta desde cedo é algo que prepara psicologicamente para as faltas com que ela terá de lidar quando for adulta. E em caso de dependência da chupeta, isso pode se refletir em outros vícios na vida adulta.
Serviço:
Maria Lúcia Bezerra de Sá, psicóloga – (43) 3027-3926
Simone Pistori, psiquiatra – (43) 3342-9935
Maria Lúcia Pereira Franzon, dentista – (43) 3327-0182
Marília Franco Punhagui, odontopediatra (Bebê Clínica) – (43) 3323-9455
Auro Kimura, dentista – (43) 3321-1198
Marcelo Castro, psicanalista – (43) 3337-6457
https://www.jornaldelondrina.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1477997
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Jornal de Londrina, 26/05/2014
Por causa da dependência, quando o indivíduo fica longe do aparelho, pode desenvolver quadro de ansiedade - Rafael Sanchez, especial para o JL
O prefixo “nomo” vem do inglês no mobile, que pode ser traduzido por “sem celular”. Mas apesar de preocupante, para alguns especialistas essa relação intensa com o smartphone não deveria ser tratada como vício. A psiquiatra Simone Pistori entende que a nomofobia está mais para uma apreensão de ficar sem o aparelho. “Isso lembra mais os transtornos de ansiedade. É diferente de uma dependência, que é algo mais compulsivo”, diz.
Enquanto a maioria das pessoas que não larga o smartphone justifica essa mania pela facilidade do acesso à internet e às redes sociais, o estudante Fernando José Ferneda Freitas se diz um “apaixonado pelas funções básicas” do aparelho, como SMS e ligações. “Se for essas coisas de internet, Instagram e tudo mais, não uso nada”, conta.
Ele leva o celular sempre no bolso da calça e diz que chega a sentir o aparelho vibrar, mesmo quando isso não ocorre. O estudante afirma ter a necessidade de tirar o telefone do bolso várias vezes, apenas olhar e voltar a guardar. Além disso, Freitas conta que precisa estar olhando para o aparelho toda vez que o horário marca dois números iguais, como 14h14, e enviar uma mensagem a alguém, chegando até a “sentir um aperto” se não fizer isso.
Perguntado se ele se considera um nomofóbico, o estudante diz acreditar que se encaixa no perfil, mas não vê problema nisso, nem necessidade de procurar ajuda, apesar de admitir que a relação com o celular lhe causa um pouco de prejuízo nas relações reais. “Se isso me causar mais transtorno eu procuro [ajuda].”
A psicóloga Maria Lúcia Bezerra de Sá explica que por trás da nomofobia está a necessidade de ficar ligado ou conectado a alguma coisa. Em relação ao celular, “a pessoa pensa que caso se separe [do aparelho], algo pode acontecer”, diz ela.
Apesar de atingir todas as idades, psiquiatra e psicóloga compartilham a ideia de que é a nomofobia é mais comum de ser observada entre adolescentes e adultos jovens, perto dos 30 anos. Isso porque essa geração cresceu com o celular e também acompanha o avanço da tecnologia. Porém, ambas afirmam que a procura por ajuda profissional entre aqueles que estão nessa condição ainda é pequena.
Irritabilidade
Um dos principais prejuízos causados a quem não desgruda do smartphone é a perda da liberdade, ressalta a psicóloga Maria Lúcia de Sá. Irritabilidade e desconforto ao ficar longe do aparelho, além de prejuízo nas relações pessoais e no trabalho também são implicações da nomofobia, completa a psiquiatra Simone Pistori.
Segundo ela, quando a fobia se manifesta acontece a hiperativação de uma região do cérebro chamada locus ceruleus – um “radar” que acompanha eventos adversos no ambiente. Esse evento libera outra substância, a noradrenalina, que em quantidade maior do que a normal, pode causar sérios problemas de saúde, como a perda do apetite, interferência no raciocínio e até na tomada de decisões.
“Carrego a bateria do celular onde for preciso”
A jornalista Sara Hermógenes, 25, fica conectada o dia inteiro pelo celular e, do aparelho, checa redes sociais frequentemente. Para isso, o carregador sempre está na bolsa, para não correr o risco de a bateria acabar. Sara conta que leva o celular para onde for. “Em casa, no trabalho, na sala da pós-graduação, no churrasco”, enumera.
A jornalista diz acreditar que isso se deve um pouco ao medo de ficar incomunicável, mas principalmente porque, segundo ela, a maioria dos seus relacionamentos ocorre por meio eletrônico. “É o jeito que tenho para me comunicar com meus pais e minhas irmãs, já que eles não moram aqui. Também com as meninas que moram comigo, temos grupo no Facebook e no Whatsapp (aplicativo de mensagens instantâneas) para resolvermos assuntos da casa”, explica. Ela não viu nenhum grande prejuízo no uso contínuo do celular, mas percebeu que está lendo e estudando menos, principalmente depois de ter criado conta em aplicativos e redes sociais acessados pelo telefone.
Porém, quando o celular foi para a assistência técnica e por lá ficou durante um mês a falta do aparelho foi enorme. “Foi horrível. Tinha a sensação de que minha vida estava passando e eu não estava registrando. Ligava de dois em dois dias para pressionar a assistência. Da próxima vez vou ter que arranjar outro smartphone, não vai ter jeito.”
Já a cabeleireira Janaina Lima, 32, atribui ficar o dia todo no celular à vontade de “estar por dentro” de tudo o que acontece e à comunicação com os amigos de várias cidades. O celular está no bolso, na mão, ou, durante a noite, ao lado do travesseiro.
Janaína tenta ficar atenta e conter um pouco o uso do aparelho para que “a vida virtual não atrapalhe a real”. “Mas é bem difícil. Celular é muito viciante”, admite.
Serviço
Simone Pistori, psiquiatra – (43) 3342-9935
Maria Lúcia Bezerra de Sá, psicóloga – (43) 3027-3926
https://www.jornaldelondrina.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1470894
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